sexta-feira, 30 de novembro de 2012

FEITO EU, O IMPERADOR


Certa feita, ainda criança, li o conto “A roupa nova do Imperador”, de Hans Christian Andersen. Confesso que eu não entendi muito bem o que o livro queria dizer, além do fato da idiotice do Imperador ter o feito andar de ceroulas perante todo o reino. No entanto, comecei a lembrar desse conto ultimamente, tanto que percebi que eu deveria ler o livro novamente.

A estória de um imperador “metrossexual” que gostava de se exibir em belos trajes para ser ovacionado pela população sob seu governo, até que dois astutos vigaristas aparecem se intitulando tecelões advindos de um reino longínquo e que eram capazes de compor, em seu tear, o mais nobre dos tecidos. Todavia, apenas aqueles que fossem dignos de seu cargo no reino e, além disso, não fossem bocós, seriam hábeis de se deslumbrar ante a excelsa maravilha de tal tecido composto de fio de ouro e seda pura – os mais caros insumos. Pura farsa! Como ninguém gostaria de perder seu cargo, inclusive o Imperador, embora não vissem o tecido, ninguém falaria nada (plano perfeito dos vigaristas).

Apesar de, como economista, eu já ter solucionado esse Jogo enumeras vezes e saiba que o equilíbrio sempre será os vigaristas fingirem que fizeram o traje e os nobres fingirem que enxergam os trajes do Imperador; saltou-me, hoje, algo mais: Em nosso cotidiano, muitas vezes nos deixamos levar pelas falas e opiniões alheias, mesmo discordando e não vendo sentido para aquilo tudo. Acabamos por agir feito o tolo Imperador, seminu a desfilar diante de todo o império.

Isso ocorre toda vez em que abrimos mão de um princípio a contragosto, quando nos impelimos à prática de algo totalmente inútil, vão ou, quem sabe, abominável a nossos próprios olhos. Em suma, sempre que tivermos que defender nosso status ou quando temos a oportunidade de alcançar um nível maior aos olhos de terceiros, acabamos em nos tornar passiveis de cair na mesma arapuca que o Imperador.

Ainda mais nesse mundo novo de aceitações onde tudo que é diferente é bom e tem que ser imediatamente aderido de braços abertos, sem que haja a mínima reflexão sobre o que está, de fato ocorrendo. Eu até aceito que todo mundo tem o direito de se expressar como quiser, mas, isso não implica em eu me obrigar a conviver com o que considero ruim na minha perspectiva.

Nossa sociedade chegou ao ponto que sabiamente Hans Christian Andersen tentou advertir para que nos esquivássemos. Atualmente, se um sujeito não é a favor de tudo, ele já é considerado preconceituoso, discriminador maldito digno na forca… e essa sentença vale para tudo, desde o sério debate machismo versus não machismo, Michel Teló bom versus é óbvio que aquilo não é música, PT versus Inteligência (ops… não PT-istas, foi isso que quis dizer), Crentes versus não crentes, ou os mais polêmicos como Direitos especiais para Negros, Índios, pessoas portadoras de deficiências, movimento GLSBT.

Desde mais novo, sempre ouvi de meus pais que para eu ser uma coisa não precisa que eu seja contra todas as outras. Exemplo forte disso sou eu, maior fã dos movimentos de vanguarda no que meio musical, ser tão próximo à pessoas que consideram que a verdadeira música de qualidade foi feita nos anos 60 – 80. EU NÃO SUPORTO AQUELE TREM MAL TOCADO, isso não implica que seja ruim, só quer dizer que não está no meu gosto… e só. Minha orientação sexual nunca me impediu de fazer amizade com pessoas de diferentes orientações… isso não quer dizer que eu tenha que mudar minha orientação. No final das contas, todos nós somos pessoas que gostam de conversar com outras pessoas.

Quando nós decidimos não nos assumir como quem somos, nos tornamos como o Imperador, tolo tentando manter as “aparências” e completamente infeliz por dentro. O mais estranho é que depois de centenas de anos nos quais a sociedade tentara se desvencilhar dos laços o politicamente correto, agora o que é moda é, justamente, a volta ao certinho. Daí, saímos de casa todos os dias fingindo concordar com tudo, aceitar tudo e respeitar tudo enquanto o que há por trás da linda máscara é a decepção pessoal e a falta de respeito com nosso próprio eu.

Adam Smith, no seu não tão premiado livro “A Teoria dos Sentimentos Morais”, adverte sobre algo muito interessante: Nem todo egoísmo gera egoísmo. O então cientista parte do pressuposto que uma vez que um agente for egoísta, esse vai procurar seu próprio crescimento e, como todos na sociedade, até os preguiçosos, querem crescer também, começam a copiar os passos do sobredito egoísta e, portanto, melhoram de vida. Nesse sentido, o egoísmo foi altruísta. É óbvio que pela idade da obra de Smith temos que procurar pensar de modo menos onírico. Prosseguindo, baseado no argumento de Smith, pensei em dividir em dois àquele  grupo de entes que ele chamara: egoístas – a saber, egocêntricos e originais.

Egocêntricos procuram se promover a todo custo, inclusive passando por cima pessoas, como se fossem origamis. Por esse motivo, ainda que consigam alguma fama, seu caminho não é tão almejado por outros. Por incrível que pareça, nem todo mundo é sem escrúpulos o suficiente pra sair pisoteando a todo mundo que o cerca em nome de uma incerteza. Na verdade, a maior parcela da sociedade é muito avessa ao risco de perder tudo em detrimento de uma probabilidade baixíssima de sucesso.

Já os originais não necessariamente precisam se valer de métodos torpes. Desde a antiguidade, nós, humanos, damos muita atenção às diferenças. Se negativas, logo nos compadecemos daqueles que sofrem das mazelas, se positivas… fazemos um culto ao diferente, chamando-o do que quisermos: líder, precursor, iluminista, iluminado, novo messias, alfa, etc. (se tiver alguma dúvida disso, tente se lembrar do quão idiota você fica ao ver um parente que acaba de chegar do exterior). Desse modo, começa o processo visto por Smith… o Original ganha seguidores que o copiarão e se promoverão, portanto.

Talvez o que não percebemos é que quando todo mundo copia uma idiossincrasia, aquilo passa a ser normal, depois: banal. Em todo tempo enquanto escrevo este texto, parece-me óbvio que o não são as atitudes de alguém que o fazem visto. É a atitude de sair da bolha e se assumir como é.

Admito já estar cansado de sair na rua e ver as pessoas fingindo ser aquilo que, de fato, não são. Estou farto de ligar a televisão e ver um bando de hipócritas atores globais (ô não!) fingindo ter opiniões que, de fato, são escritas por românticos roteiristas. Não há como ver essa situação e não me arremeter ao Imperador vestido de nudez desfilando por seu reino enquanto os cínicos aldeões aplaudem à falsidade.

Não vejo problema quando as pessoas passam a se aceitar, porque isso é bom. O problema, ao meu ver, está quando somos forçados a cultuar ideais que, para nós, não fazem sentido algum, por medo de dizer não. É absurdo que nos deixemos punir por razões e causas que não são da nossa conta. Até que um dia, alguém sem nada a perder revela: isso é tolice… não gosto disso… acho ruim. O mais interessante é o grau de fluidez do senso comum que, depois de alguém ter dado a cara a tapa, passa a assumir que aquilo é ruim… até que aparece alguém que gosta novamente, para fazer todo mundo reconsiderar a opinião.

Sinceramente, não nasci nem fui criado para ser o tolo Imperador, ou qualquer um de seus lacaios. Não fui feito para aplaudir aos néscios e descabidos, pois, isso só me faria um deles. Prefiro trabalhar em me tornar como a criança que ao final da estória diz: “Mas o Imperador está sem roupas”. Não tenho complexo de herói ou de bom moço. Só estou saturado de ver a sabedoria convencional tentando me fazer engolir lixo como se fosse um banquete real.

Gustavo HG Costa.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

ROTINA DE ZÉ CESÁRIO


Tão desequilibrado,
Cansado,
Sentado beira estrada, ou beira-bar.

Ora credo,
Ora sem crer;
Na enjoeira de beber até cair

Sai rolante,
Gira-mundo
Circundando a mesa na Estação

Vai-se embora,
Mas logo volta
À meia-prosa pr’ a repetição.

Desordeiro, sem cativeiro.
Arteiro… E faz arte, free soul.
Acovardado na birita,
Vê saia e tem logo, um frisson.

Na requinte, sobe a Bahia,
De pressa, a Liberdade, vai ver…
Carros que sobem da João
De pressa, a Cristóvão, vão descer.

Cá no tempo,
Tinha bonde
Até ver o final do Brasil

Tinha bondade,
E até Dragão,
Acampando até seu tempo acabar

Coordenando passo-a-passo,
Rapa-dura pra ninguém desconfiar.
Mais pra frente viu Getúlio,
Tomé já veio logo só espiar.

Vai pra casa, Seu Zé Cesário,
Feito rato sem amparo, pra cochilar.
Amanhã volta, não é otário,
Faz logo sua rotina, não para mais.

(No que gosto na cidade, tudo é belo. Talvez, um pouco distorcido... há tanto caos e absurdo que nos acostumamos a falar e esperar o mal de nossa pequena capital pão-de-queijo.

Tais fatos geram lamentos de cidadãos, indignação de ativistas, reportagem para jornalistas... como mais tarde vou postar. Mas, o que aprendi é que até no feio há algum ponto de beleza, ainda que efêmero. Tal qual a vida e morte de Zé Cesarino, personagem fictício da vida real. Sua rotina quase sacra é, no dia, ganha-pão, sustento de seus filhos; na noite, bar e "butequin" - o suco de álcool que ameniza a dor, ou deveria.

Imaginei-o, deveras embriagado, subindo da Praça da Estação à Savassi, naquelas andanças que só bêbados entendem o motivo... até que passe seu ônibus e ele volte para casa na esperança do novo dia, para seguir novamente a mesma rotina.)

Lucas do Sobral e Mattos.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

CONSELHOS PR’ O AUTOR


Vai-te a cantar,
Põe num papel
O que sempre quis dizer,
Mas não conseguiu.

Forja canção,
Grava teu som
E põe para ela ouvir
O que você fez.

Versos, canções,
Poema pra musa,
Dona do ar
Desses pulmões.

Frágil refrão,
Acorde tão natural
Para prender
Toda atenção

E seja real, dê teu coração,
Não fuja diante do medo mortal.
Não procure chão, só tente andar.
E logo verá o fim da escuridão
Que antes parecia te cobrir
…  de confusão,
Mas tudo não passou de sonho

Coragem vem
Acaba a timidez,
Tenro e sagaz,
Sei que encontrará…

Em teu baú,
Razões para prosseguir…
Compositor
Da vida e amor.

Pr’ o autor da nobre canção,
Meu conselho é que seja leal
Verdade dói, mas vai libertar…
Quem crê…

(Há algum tempo, pessoas de minha convivência - que provavelmente tem problemas psicológicos seríssimos - começaram um certo hábito de pedir minha opinião no que escrevem, seja de modo ideológico, seja para fazer aquelas correções, normalização e dar aquelas pequenas dicas.

Depois de recusar opinar a poesia de um amigo iniciante - sob o intuito de que ele se encontre sozinho - e de horas de conversa com as duas melhores amizades que tenho fora de casa, percebi que havia material na minha mente para que eu pudesse escrever algo... breves toques e um conselho para autores de qualquer natureza. Como eu gostei, apesar do ar infantil da poesia,  postei aqui, não um dilema, mas uma resposta pessoal para dilemas interpessoais.)

Gustavo HG Costa

terça-feira, 27 de novembro de 2012

ÚLTIMAS PALAVRAS (O MESMO CASO IV)


Aqui te enterro,
Sem lágrimas ou mágoas,
Eu te supero,
E deixo as cinzas do luto.

Não discuto,
Nem me iludo
Passa o tempo
E sigo em frente.

Não quero teu mal,
Teu bem não me interessa,
Não sei se você presta
Nem me importo com o que passas

Encerro meu pranto
Sigo em frente,
Apago o sofrer
E me ligo a uma nova esperança

Prefiro viver o real;
Prosseguir…
Perseguir o meu futuro
E te deixar para trás

Tudo passou.
Passa a hora do cessar fogo,
Nada de vencedor.
E ninguém é dono da derrota.

Só somos…
Diferente do que fomos,
A estrada era difusa
Partimos em sentidos opostos.

TRÊS TEMPOS (O MESMO CASO III)


[Passado]
Sempre te amei…
Hoje, eu te amo…
Sei que sempre te amarei.

Devotei meus dias a confessar-te meu amor,
Pois, ele não cabe em meu peito,
Você me deu um porquê para viver.
Minha paixão, meu tudo, meu ser.

Meu futuro certo é ao teu lado,
Minha única razão foi te amar
E se a morte fosse meu destino
Quis morrer de amor por você.

[Presente]
Acho que te amei…
Não sei por que te amo.
Sei que isso vai mudar.

Entrego-te um coração apaixonado
E sigo meus dias em função de algo indefinido.
Minha cabeça continua embaralhada
Não sei definir o que é o quê.

Ao teu lado meu futuro é loteria,
Risco solto ao acaso
Diária renuncia incontrolável
Dor que fere, cega, seca e emudece a alegria.

[Futuro]
Não sei se te amei…
Se amei, não sei o porquê.
Sei que nunca saberei.

Por que entregar-te meu coração?
Sei que tudo será em vão
Uma certeza em minha mente
Não há nada entre a gente.

Ao teu lado meu futuro seria prejuízo,
Risco alto e sem retorno, incerteza
Árdua luta numa batalha já perdida
Agonia incessante e sem motivo.

sábado, 24 de novembro de 2012

O EXEGESE DE UM DESAMOR (O MESMO CASO II)


O teu lado mais humano?
É aquele que nunca existiu
Tua maior qualidade?
o pior dos defeitos já vistos...
Ainda assim, fui capaz de te amar.
Descumpri meus princípios
Em nome de algo grande
Que só eu pensei existir…

Tudo foi só ilusão, algo assim.
Assumi papel cego, surdo, mudo… burro!
Sob a tentativa de manter meu tolo propósito:
Viver um tal amor que nunca se tornou verdade.

Nem tudo é culpa tua.
Eu sei onde eu errei:
Foi no esperar demais,
No ir tão fundo por alguém
A ponto de esquecer o óbvio
“Quem não tem alma, não pode amar”
E essa regra não tem exceção;
A pedra de gelo em teu peito não é coração.

Segui num desproposito,
Por querer me engando;
Mas estou farto do insano.
Despi as escamas dos olhos
e vi o que nos tornamos…
Parei de girar em torno de ti.
Voltei a protagonizar minha existência,
E você, meu desamor?
É só um triste passado
Arrancado de meu peito,
Indigno de atenção,
Sem vida, sem valor.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

RIMA POBRE (O MESMO CASO I)


Na tua frente,
Todos ficam como dementes,
Estampando um sorriso entre os dentes,
Parecendo que és atraente.

Entre nós, tudo acabado!
Mas, não me vejo derrotado,
Pois, sei que, ainda calado
Não sou quem faz tudo errado

Não posso dizer que sofri,
Pois, sei que nada perdi.
Vou viver bem sem ti.
Já que não vales tanto assim

Acabou a melancolia
Eu só tenho é alegria
Vi que a triste noite fria,
Transformou-se em belo dia

Agora tudo clareou!
Minha tez voltou à cor.
Encerrei o pranto e dor;
Entre nós, não houve amor

Extasiado pelo feliz final,
Eu não quero o teu mal
Venho dar-te algo boçal,
Bem banal, feito teu pouco sal.

Tudo passa, o tempo cobre,
Mas não esconde teu lado esnobe.
Você é bela, mas nada nobre
Não tem alma e ninguém descobre

Por isso, fiz tais rimas pobres
Pouco úteis e nada fortes
Combinando com o que encobres
Pobres rimas, Rima Pobre.

O MESMO CASO - O PORQUÊ

"Escrever é a forma dos fracos se expressarem". Se isso é verdade, informo desde já que, por ser fraco, começo hoje a postar uma série de poesias nesse blog. Tais fazem parte de uma mesma obra, chamada "O Mesmo Caso" que tem em si, o desejo de me ver curado de uma antiga dor. Nesse poema, resulto em contar o mesmo fato, de diversas formas. Espero que sirva a alguém, tal qual serviu a mim.

Lucas do Sobral e Mattos.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

NO ALTO DOS 23

A todo torpor
Permaneço ébrio,
Perdido nas trilhas que já sei de cor.

Perspectivas à frente.
Nas estritas bifurcações da vida,
Escrevo meu caminho
E faço o presente dar forma ao futuro.

No alto dos meus 23,
Converto minha dor em versos
E faço preces para encontrar respostas.

Pergunto-me sobre o final.
O que falta em mim?
Paixão pelo que serei
E compaixão por quem, um dia, fui.

Nesses versos sem sentido,
Desencontro do nexo de mim mesmo;
Amortizo minhas mazelas.

Sigo só em minha jornada.
Agora, é meu caminho,
Minha escolha…
Minha consequência.

Nada mais me resta.
E, por esse fato,
Nada perco em prosseguir.


(explicações tornaram-se frequentes nesse blog. Para seguir a onda, também tomarei esse caminho. 
Refletir sobre a sociedade, seu bem e seu mal é um hábito meu - na verdade é um de meus vícios. Todavia, quando a reflexão se vira pra dentro de mim mesmo, começo a tentar organizar minhas bagunças mentais e, por isso, acabo me perdendo entre tantas coisas. Meu passado fala alto, o futuro assegura incertezas, se me permitem a brincadeira entre vocábulos. 

Nas raras vezes que decido fazer essa introspecção, descubro que o tempo continua a contar em seu ábaco inesgotável e me trazer à tona um novo Gustavo, tão diferente do que um dia fui. Não me envergonho de que um dia eu tenha o sido, mas aquela pessoa já não cabe nessa casca... Nas últimas semanas, decidi fechar uma fase da vida e abraçar ao novo que está me aguardando, sem temer o porvir. Caso eu tenha algo a perder,  que seja por mim mesmo; se tenho algo a escolher, que seja minha a decisão e, nisso, aceito as consequências que vierem. Desde que sejam consequências da minha originalidade.)

Gustavo HG Costa

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

MORTE OU FUGA?


Faço um velório das minhas palavras...
Um enterro, sem capela ou atenção.
Não me deixo mais viver tão conivente
com tuas máscaras e tua maldição.

Eu apago as memórias de um passado
e acostumo minha alma à escuridão.
Só refuto o sofrer eternamente
por alguém indiferente e sem razão

Aonde vai se esconder?
Tuas máscaras já não me enganam mais.
Quem você é? Que vais fazer?
Agora sigo em frente sem você.

Já não tente usurpar outro lugar.
Nem perca tempo esperando encontrar
um refúgio em meio a toda essa dor.
Quem causou a guerra foi o teu pendor.

O pavor assola tudo ao teu redor.
Almas penadas se amontoam pra vingar
de teu veneno, teu efeito, teu furor
Tuas falsas lágrimas secaram o teu coração

Não há como apagar,
já não quero esconder,
Se jogue nesse mar
se afogue pra valer...

Mas se pretendes viver,
O melhor para você
é levantar e fugir
Pra bem longe de mim!

(Esse texto foi inspirado ao ler a publicação "HOMEM AO MAR"  do blogger Gustavo Costa... É mister que, ao longo dos dias, somos envenenados por pessoas com seu discurso (i)moral que se fingem de santos para tentar tirar proveito de nossa generosidade. A esses eu digo: Se não pular do barco, vou te empurrar. Apesar de parecer duro dizer/ouvir isso, sobrevivência é uma responsabilidade humana da qual eu não me abstenho em nome dos falsários sociais. Aproveito, ainda, e informo a ti que sei que lê o meu blog e sabe que falo exatamente sobre ti: Pule do meu barco ou fuja de minha ira. A decisão é tua, ex-amor.)

sábado, 3 de novembro de 2012

HOMEM AO MAR

“Está em todos os jornais, mais uma guerra começou. Um lado finge pedir paz, o outro nunca escutou. Alinhem os porta-aviões, coloquem balas nos canhões. Então, de longe pude ver em meio à tempestade, lá estava você: Homem ao mar dizendo adeus… Quis um lugar que era só seu. Homem ao mar sem salvação… Quis navegar na escuridão. A imensidão de água negra cobriu, de fora a fora, o convés da embarcação. Jamais achei que ia ver, num caminho distinto, nossa salvação.” (Homem ao Mar. Lucas Silveira, 2012)

O que diferencia as perspectivas de uma mesma história?

Considero-me maduro o bastante para saber que não existe essa de personagem A é o mocinho; personagem B é o vilão; C é a vítima indefesa; já D é o observador imparcial. Aprendi que a verdade funciona de forma um tanto quanto relativa. Cada personagem tem sua lógica, seus princípios e motivos que formaram sua posição. Vejo também que o senso comum algo bem estranho, pois, embora o papel do “Mocinho” pareça o melhor, todo mundo gosta mesmo é de ser “Vítima” – o agente da passiva, quase anencéfalo por ser incapaz de se defender dos dardos inflamados acesos pelas palavras do malvado “Vilão” que, por pura crueldade, tem sede de ver sangue derramado.

Na verdade, penso que esse agir ‘emburrecedor’ tem violentado o funcionamento pleno da sociedade, pois, enquanto uns lutam por independência e pelo direito de pensar, o que a massa popular aprecia mesmo é ser vista como fraca e digna de dó. Assim caminhamos, arrogantes e falsos usurpando o lugar de detentores da razão porque “ninguém sabe o que estamos passando”, “ninguém pergunta como estamos nos sentindo” e “blá, blá, blá” (Essas expressões malditas me perseguem em todos os níveis relacionais, ao menos três vezes por semana – seja como amigo, como economista como músico, como pretenso escritor/poeta, ou qualquer atribuição que queiram dar). E, como sempre, o diagnóstico é o mesmo: ‘bolcheviques’ tentando se isentar de suas responsabilidades culpando a outras pessoas, algo por muitos rotulado como “a síndrome de Adão”.

A mais recente (e mais irritante) das desculpas foi “Gustavo, eu não tenho culpa se me excluíram”.
Por que irritante?
É fácil explicar: por acaso, alguém aqui conhece um marujo que fora posto para ‘andar na prancha’ sem que haja motivo para tal? Até onde sei, por mais não misericordioso que um capitão pirata seja, ele não destrói sua tripulação a bel prazer. E o homem ao mar? Geralmente foi expulso do barco por fazer péssimas escolhas.

E, por favor, não me venham com aquele Complexo de Jonas. Isso não cola!
Mais irritante do que o sujeito ‘Eternamente Vítima’ é a famosa ‘Vítima Resignada’ que pula do barco pra que o resto da tripulação sobreviva.
Vamos lembrar que, pra começar, Jonas jamais devia estar naquele barco. Segundo, quando as pessoas assumem compromissos, elas JURAM estar em paz com os termos do contrato. Daí, quando tudo dá errado, a resposta oca é que a fúria do Divino recai sobre a “loira” cabeça do errante que, arrependido (nova palavra para remorso), se joga da embarcação.

Eu me defino como uma pessoa muito complexa em vários aspectos. Não obstante, pr’ algumas coisas, considero-me o minimalismo da simplicidade. Errou? ASSUMA, peça perdão e corrija. Simplesmente se jogar do barco pode te afogar… Parem de contar com o grande peixe, pois, nem quinhentos oceanos têm peixes suficientes para o monte de “arregões” que se assumiram atualmente.

Encarando os fatos, a primeira coisa que eu quero entender essa falta de caráter sem noção que diz que está tudo bem e, logo em seguida “não é bem assim”. Arremetendo-me à sábia fala de Sen (1999) o mundo é algo mais complexo do que a teoria, mas isso não me torna isento das conseqüências de minhas irresponsabilidades. Talvez seja hora de assumir que todos nós temos nossa quota de heroísmo, vilania, passividade e parcialidade. Isso nos define humanos, normais, maduros. 

QUEM CAUSA EFEITO


“Sou responsável pelo que eu falo e não pelo que você entende” (Jó Soares, 2011  - Citando, Eneás).

Eis aí a grande máxima do ‘novo direito de se expressar’. Lindas palavras cobertas de um sincero sentimento de se resguardar das pérolas que as pessoas desenvolvem a partir do que falamos.

Não sou um intelectual, não sou poliglota e não sou âncora de um do mais famoso talk show da América Latina. Todavia, se me for permitida uma análise crítica dessa célebre expressão, a primeira coisa que eu digo é: há, no mínimo, duas interpretações totalmente plausíveis coexistindo nessa fala do perspicaz Jô.

Por um lado, ao aplicarmos essa ‘filosofia’ de vida, lembramos a todos que não somos responsáveis pelo que fazem de nossas palavras e atos. Não tem dessa de “Mas eu fiz o que fiz, porque fulano sugeriu”. Não. 

Cada um é dono de si, ninguém é obrigado a nada, nesse mundo. Quer agir? Que seja tua responsabilidade, então. Não importa se o Jô falou, se o líder religioso falou, se “Deus falou”. Quem fala/faz deve arcar com as consequências de seus atos.

O que mais existe por aí é gente falhando e correndo pra colocar a culpa em alguém. “Eu traí porque você não me ama mais”, “eu menti porque fiquei com medo da tua reação”, (comeu do fruto?) “foi a mulher que TU me deste”.

Nesse ponto, tudo parece perfeito, então.  Tudo se resume ao simples, rápido e objetivo – sem perdas. Eu falei; tenha bom senso e trate de interpretar direito, pra não sair fazendo ‘cagada’ por aí! Não obstante, essa lógica quase filosófica esconde em si um lado menos romântico que o anterior.

Se bem me lembro das longas aulas de Relações Interpessoais: para obtermos qualquer espécie de comunicação, nossa mensagem tem que ter significado para quem a recebe (lê, ouve, decifra, decodifica); caso contrário, há falhas de comunicação e a correção é necessária (obrigatória). Enfim, qual o meu ponto com toda essa parafernália quase científica? Lembrar a vocês, leitores, e à minha pessoa que, SOMOS RESPONSÁVEIS, SIM, PELO QUE AS PESSOAS ENTENDEM. Em todas as palavras e atos, estamos redefinindo e re-significando histórias, causamos efeitos sobre quem nos cerca.

Não adianta tampar o sol com a peneira dialética. Nossas ações geram efeitos sobre quem nos cerca e contra isso, não vejo um claro argumento. Ver as pessoas falando o que querem e “desfalando” quando conveniente é, no mínimo, um abuso. E, ainda, ouvir a pessoa citar a sobredita expressão do Jô Soares, pra se justificar… Creio que ainda não exista a palavra correta pra demonstrar o grau de mediocridade crônica de um sujeito (pensante) ao fazer isso.

Bem, há coisas nas quais eu sou muito ortodoxo: Quer falar? Seja claro, para que a mensagem chegue corretamente aos ouvidos alheios. Houve falhas? Corrija e siga em frente.

Na verdade, creio que se quem se isenta totalmente de sua responsabilidade não deve receber o título social de homem/mulher, pois, continuam a agir feito crianças: inconsequentes, imaturos.