quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

SEM DESTINO


Às vezes, sinto que passo,
Mas não piso a terra por onde vim,
Feito um saco – pele e ossos –
Sem destino ou certeza.

Largo-me à margem de qualquer rio,
Poluído por antigas emoções
Num sofrimento descabido.
Ou, quem sabe, beiro a praia,
Disfarçando pensamentos
E só ganho a solidão com vista pro mar.

Algo me fala do passado,
Em palavras que já não entendo,
Nada sei do meu futuro,
Meu presente é só desassossego.

Os fragmentos de minha história,
Não se encaixam mais em mim.
São lembranças que eu renego.
Sem convite, só me seguem,
Atormentam, não me deixam,
Já não posso prosseguir.

Lucas do Sobral e Mattos

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

INTOLERANTE


Respeito falsos vícios,
Falsos profetas,
Loucos homens que só fingem ter um deus.
Aguento a pouca prosa
E os idiotas que se armam de babacas sem razão.

Suporto os caretas,
Os delinquentes;
Inconsequência em forma de louca paixão.
Não me importo com coitados
Nem com valentes,
Semente de contenda, não é problema meu!

Discórdias e intrigas,
Até aceito.
Pleito vendido pra um tal prefeito.
Sigo as regras,
Mas somente às minhas,
Pimenta nos teus olhos? Refresco meu.

Só não tolero tanta roupa,
Grande desgosto…
Tanto espaço nessa cama e estou sem você
Não aguento, nem suporto viver a lembrança
De que o dia do amanhã me vem sem você

Sou intolerante à vida sem veneno,
Sem a dor de sempre por te ter aqui
Eu só dependo dessa pele e cheiro,
O que me mata é ter viver assim.

(Tese de uma breve recaída... o momento em que se vê que todo "eu" só é feliz quando se torna um "alguém" realizado.)

Lucas do Sobral e Mattos.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

EU TROVADOR


Eu faço poesia em tema popular
Para mostrar
Que a dor da agonia,
Ainda que tardia,
Simplesmente foi embora.

Intangível sofrimento,
De lamento assim tão lento,
Expusou a dor do peito.

Num jeito bossa-nova meio rock and blue
Instinto nu
Já guardei o meu tatame,
E ainda que reclames,
Eu não volto nessa casa.

Despedaço os argumentos,
Maus bocados sem alento
E me entrego a alegra.

Sigo, à pé caminho à toda brisa e fé
Vou sorrir até
Convercer a minha alma
De estrutura pobre e calma
A viver mais invisível.

E, quem sabe, o invencível,
Resoluto sentimento
Traga sonhos com sentido…

'Té um dia eu acorde,
Entendendo que eu sou
Dessa história, trovador.

(Mudanças de estação nos tiram da chamada "zona de conforto". Passamos a ser confrontados por novas realidades e verdades. Encontro-me agora na crise entre duas estações... uma fica no passado até que eu abra os braços para a nova e me torne novamente o trovador que sempre fui.

Me resta aguardar.)

Lucas do Sobral e Mattos.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

PARA SINHÁ

Ó sinhá dona da paixão,
Minh’ alquimia,
Encha de vinho, o meu lagar,
’Té que eu transborde.
Dá-me motivos pra sorrir de novo,
Mostra-me a vida que há em ti…

És o motivo da canção,
E da alegria.
Dom dos poetas, sal e sol,
Musa divina.
Quero viver de me enredar em ti…
Do teu romance, ó sinhá, sou colibri.

Sinhá que faz anjo cantar,
Meu norte é teu esplendor,
Sem dor, de cor…
Fazei girar meu mundo
És terra a vista pro meu mar
Calma e consolo tão sem par

Antes piá, tenro e sagaz,
A minha sina
Era viver pra te encontrar,
Linda guria.
Verossímil a quem meus sonhos viam,
Luz da manhã, pedra, farol do dia.

Me salva dessa solidão
De amargar…
Dá-me motivos pra sonhar
De novo…
Joga meu coração ao vento,
Pr’ apagar meu pranto e lamento.

Para a sinhá sonhar,
Rodar no dia,
Rega o chão no qual plantei
Meus sonhos,
Fazei brotar nov’ alegria
No quintal de meu coração.

(Sempre tenho motivos ao escrever uma poesia. Essa é diretamente à minha amiga Sue Teixeira. Sua tez que se colore de verdades e o intrigante fato de ela ser quase monopolista natural de todo romantismo que resta no mundo, chamam atenção por onde ela passa...

Eu acredito que há mais de uma forma de se tomar um coração. E eis o fato, de terno bem-viver essa pequena guria tomou meu coração. Nisso, o que posso dizer é: Graças a D'us pelas verdadeiras amizades. Elas não partem corações, não abandonam e estão sempre dispostas a caminhar conosco.

Sue... e no mais "Deixe estar")

Gustavo HG Costa.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

AH! MORENA

Em sonho brando me vem você.
Sendo esse inteligível aparato
Na janela dos olhos meio abertos;
Sua presença, morena, é de estremecer.

Acordado em pensamentos fúteis,
argumentando sobre não pertencer,
em futuro próximo, a seu amanhecer
por simples emaranhados inúteis.

Por acaso qualquer
não posso me encontrar em tua presença…
tua voz me faz perder o controle.
Conheço, a vontade de perder.

A maior parte do perceptível,
desejo em forma de sonho…
cansado de só um sonho,
E gostando cada vez mais do possível.

Ricardo P Magalhães.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

INFANTE


Emoção sorrateira espana poeira de trás
De livros antigos, de amigos…
E sente do híbrido favo da lei… No plano ideal.
As curtas viagens, o curta bem feito em instantes.
No ábaco tempo, vive o lamento de coexistir
Com o passado vulgar.

Vai fugaz, procurando nos lábios o doce torpor.
Vacila no mundo, descobre absurdo no velho baú da paixão.
Cordilheiras de grãos de afeto, Erosão,
Desacertos que cobrem o cais…
Seus barcos e embargos que calham de estar encalhados na tal robustez
Do velho brincar.

Épico quebra-cabeça e chapéu de jornal,
Pirata distinto, extinto, insurreto instinto…
No breve pulsar da prece que faz
O tão inocente menino que está a brincar
Sem imaginar que um dia toda euforia, virará ilusão… De tão irreal.
As breves e longas estórias na palma da mão.
Vassoura e rodo, cavalo e espada, na guerra do bem contra o mal…
Com a boca a narrar.

Os primeiros nós, o primeiro ‘nós’ tão contido,
Insana paixão nos olhos na moça
Enganam o trouxa e força a crescer num breve verão.
O outrora infante se encerra em seu violão.
Já doa carrinhos, se entope de livros,
Espera o futuro chegar sem desilusão.
Os dias se passam e o vira-tempo mordaz
Traz realidade e felicidade não passa de longe ilusão…
Infância acabou.

(Mexi n' algumas gavetas de meu lotado quarto. Encontrei tanta coisa que entendi o porquê dos piratas gostarem de guardar tesouros em baús. Vi ali o que sobrou dos meus outrora incontáveis carrinhos, brinquedos que restam que só estão lá para quando uma criança vista a casa. Vi meu primeiro livro, que tanto gostei que me dei de presente por duas vezes, alguns desenhos à mão que provam que não sirvo pra isso, primeira poesia, primeira música com acordes tão delinquentes que é melhor que o mundo jamais ouça aquilo - o que não quer dizer que eu não fique feliz por ela ter existido -, no fim, me vi assentado na cama pensando na breve infância tão repleta de tudo que realmente não sei como deu pra viver aquilo tudo...

Lembrei-me das pessoas, antigos amigos que hoje se casam. Também lembrei daquelas pessoas das quais eu não gostava, por óbvias razões/ações. Todavia, nunca tratara ninguém de modo discriminado. Não importava se eu era fã ou não, se me desse ouvidos, eu devolvia atenção. Pena que enquanto algumas prezavam por me construir, outras só prezavam em magoar... Enfim, um dia tudo acabou e a gente não sabe dizer quando, só sabe que tudo acabou... quer tanta coisa de volta, mas infância acabou.)

Gustavo HG Costa

sábado, 1 de dezembro de 2012

IMAGINÁRIO DE RICARDO MAGALHÃES

E a vida voa enquanto eu fico
Aqui sentado esperando uma utopia
Em que seja um leviatã o tal objetivo
Não mais uma vida vazia

Se sonhar é mais um mito
Viver se torna a única verdade
Se sonhar for proibido
Então que o inferno me aguarde

Poder de ser, de ter, de mandar
Poder enquanto a Leviatãnica utopia governar
Que não seja mais um idiota no poder
Que seja eu do contrato a se beneficiar

Se for para mais uma vez errar
Que seja um sonho para amenizar
Mas se for por enorme prazer
Que pelo menos o nome dela haja de se conhecer

E agora que continuo sentado
Tentando argumentar em anseio
Imaginando o sentido
De ter escrito esse devaneio.

Ricardo P Magalhães.

RICARDO P MAGALHÃES – O PORQUÊ


Apesar de esse blog só ter ganhado vida há menos de dois meses, eu o idealizei quando estava ainda no ensino médio. O projeto inicial da página se chamara “Versos Re-versos” (há propósito, que nome horrendo – eu devia estar doido quando pensei algo tão ruim) e a principal ideia era postar sobre a batalha interior que cada um de nós passa a cada dia… um espaço livre para que se pudesse desvencilhar dos padrões que a sociedade nos impõe por ser tão ativa e desprendida de lembrar que humanos são péssimas máquinas, justamente por serem capazes de racionalizar. No entanto, eu não poderia deixar um projeto tão ambicioso (ao meu ver) como uma bolha na qual só eu fosse capaz de participar. Nesse sentido, expandi o convite a autores de minha total confiança. Dois deles, são muito fáceis… vieram ligeiro, ligeiro… já os outros dois são bem mais duros na queda… ô povinho difícil…
Enfim, depois de dois meses e meio de conversas 'qui e ali, não resisti e chamei formalmente ao senhor Ricardo P Magalhães para compor nossa banca de autores. Ele é autoexplicativo no que escreve, não tem meias voltas, nem dó de se valer da verdade em tempo integral. Sei que vocês vão gostar.
Bem-vindo, jovem!

Gustavo HG Costa.