Vinte e quatro anos de idade. Tanta coisa aconteceu nesse tempo.
Vi tanto e, ao mesmo tempo, sei tão pouco.
Das coisas que aprendi, descobri que ainda falta muito a ser
alcançado, construído e há mais a ser planejado.
Aprendi que todo mundo é normal e que o normal é ser
peculiar e, não importa o quanto se tente, pessoas não são copiáveis ou
perfeitamente imitáveis.
Aprendi que cada um pensa diferente do outro, mas todos dão valores
a coisas parecidas: a amizade, o amor, o companheirismo, a paixão, a compaixão…
Aprendi que todo mundo quer paz e, para alcança-la, armam
guerras.
Aprendi que sorrisos podem mentir e que lágrimas podem indicar
tristeza, alegria, surpresa, saudades…
Hoje, entendo que verdade é um conceito muito subjetivo e
que fé não foi feita para ser discutida.
Aprendi que palavras são mais perigosas do que armas e que
fraturas podem machucar menos do que um ‘adeus’ inesperado.
Aprendi que não existe protocolo para quebrar um coração e
que, não importa quanto tempo leve, um dia acordamos pela manhã e percebemos
que estamos curados.
Entendi, finalmente, que a morte é a única separação
irremediável entre duas pessoas e que a saudade de alguém que partiu é a única
ferida que o tempo não cura.
Reconheço, entretanto, que nossos atos podem honrar a
memória de alguém, a ponto de manter essa pessoa viva em nós e isso não é algo
ruim.
Hoje, sei que ninguém esquece o famoso ‘primeiro amor’ e
que, geralmente, esse amor não passa de uma paixão bocó que rola aos nove ou dez
anos de idade.
Também sei que, por volta dos vinte, você descobre que seu
primeiro amor se casou e isso te causa uma sensação estranhíssima…
Creio que paixões adolescentes deveriam trocar de nome dado que
elas acontecem a todo tempo e que, na verdade, você consegue viver sem uma pessoa
por quem está apaixonado.
Aprendi que existem vários tipos de amigos e que,
eventualmente, grande parte deles vai embora, mas isso não significa que a
amizade não foi verdadeira.
Também aprendi que existem amizades que duram tanto tempo
que nos dão impressão de serem perenes e, não importa quantas vezes o acaso ou
a vida tentem te separar desses amigos: eles sempre voltarão – se você voltar
por eles também.
Aprendi que a família é o único grupo de pessoas que nunca
te abandona e que o título de irmão é dado ao primeiro amigo que você tem na
vida.
Aprendi, também, que ir ao cinema/restaurante/shopping/festa
com um irmão, é uma atividade EXCELENTE que vai te fazer rir por anos ao
recordar das loucuras que acontecem.
(Aprendi que sair para comprar presentes de natal junto à
minha irmã pode implicar em gente louca puxando cabelo de desconhecidos no
ônibus, risadas altas em plena Rua da Bahia, lágrimas de riso em plena Rua Rio
de Janeiro e que a melhor parte de tudo é que nada é mais gratificante do que
saber que a pessoa que está com você, sempre estará lá para te ajudar).
Aprendi que as conquistas mais gratificantes são aquelas que
você alcança se dedicando a alguém além de si mesmo e que os egoístas se sentem
incompletos porque não têm capacidade de fazer nada pelo próximo.
Acredito que ninguém é tão grande ou perfeito a ponto de
poder não precisar de ajuda.
Vejo que os orgulhosos padecem por serem incapazes de dizerem
que precisam de alguém para dar uma força.
Aprendi que a sociedade se divide em grupos diversos e que
cada cidadão se diz não preconceituoso, erroneamente (vá a uma roda de Góticos
e cante um pagode, eu te desafio!).
Reconheço, nas pessoas a capacidade de atuar e até de mudar
quem são para conseguir a aprovação de
terceiros e acho isso uma bobagem…
Aprendi que ricos dão festas para mostrar o que têm e pobres
dão festa para gastar o que não têm.
Já constatei também que, ao contrário do que o bom senso
diz, é das festas de pobre que a gente sai realmente saciado. Voltando para
casa, após uma festa de gente rica, sempre bate uma fome.
Aprendi que todo mundo gosta de fazer e falar o que quer,
mas ninguém gosta de colher as consequências negativas, por isso, tanta gente sofre
da ‘Síndrome de Adão’.
Fui instruído sobre as Ciências Econômicas não serem Exatas
(como o senso comum descreve), muito pelo contrário, Economia é uma Ciência
Social Aplicada e Arrogante que a gente aprende a trabalhar e acaba vendo que essa
parafernália toda faz muito sentido – para ortodoxos, heterodoxos e bobos.
Aprendi também que a Economia pode ser resumida em duas certezas:
Não existe almoço grátis e tudo é incerto, impreciso e arriscado.
Aprendi que viver sem música é tão difícil quanto andar sem
colocar os pés no chão e que, por mais que seja bacana subir no palco, bons
ensaios produtivos sempre são mais legais.
Aprendi que poesia e música podem ser frutos do querer e do
acaso e que as melhores sempre vêm nas horas que estamos do violão, do papel
para anotar e sem bateria no celular.
Noto que todo violonista adora tocar em Sol Maior, existe
vocalista que pensa que a voz tem um tom fixo para cantar todas as músicas e os
leigos acham que é possível ensaiar várias músicas novas com um grupo de vinte
e cinco pessoas em menos de dez horas por mês.
Aprendi que todo músico popular odeia tocar em Si bemol
(terrível mesmo), sempre damos aquela arrastadinha para Lá, ou Si…
Hoje, sei que uma banda, quatro integrantes, é capaz de te
fazer se sentir tão em casa a ponto de toda terça-feira às sete da noite, você
sentir falta de poder cruzar a cidade no famoso carro preto para mais um ensaio
seguido de uma curta conversa que, quando notamos… ó, já é meia-noite.
Aprendi que os trabalhos realizados no templo amarelo fazem
muita falta e poder ouvir o som da guitarra verde, vermelha ou preta, do baixo
já substituído por um novo e daquele Jazzbass preto e branco, dos cinco violões,
dos teclados, da bateria prata… é um prazer imensurável.
Aprendi que as vozes agudas e graves e a mesa que fica ali
em cima melhoram a vida de todos.
Aprendi que as lições dadas por um sábio devem ser guardadas
e que eu tenho força, mas os mais velhos têm a experiência a seu favor.
Aprendi que, nessa vida, todos lutam, todos sofrem, todos
crescem e que “nessa vida, ninguém cai de maduro”.
Entendi que “com a roupa encharcada e a alma repleta de chão,
todo artista tem de ir onde o povo está” e ouvir as críticas é tão importante
quanto ouvir os elogios, não importa o quão relutante você esteja.
Sobre tudo, aprendi que os problemas do passado parecem
bobos com relação aos de hoje.
Aprendi também, que no futuro, os problemas de hoje parecerão
triviais.
No final, me bate uma certeza de que tudo que sei não passa
de um pequeno grão de saber e que amanhã, ou depois, muito do que aqui está não
mais será minha verdade.
Digo isso porque aprendi que tudo que eu chamo de certeza
pode mudar um dia.
Gustavo HG Costa.