quinta-feira, 28 de março de 2013

JÁ CANSEI


Cansei do quarto tão desarrumado,
Desse tempo e nosso falso caso.
Essa história que vem reprisada
E com final tão infeliz

Já larguei da espera desesperada
Por tuas curvas e por mais prazer,
Dos teus cabelos, tua pele e beijo,
Da tua voz, teu violão.

Olhos nos olhos, corpos e tesão.
O teu perigo é minha maldição
E se encera ao te encontrar
Na curva certa de algum lugar.

Tudo em você me inspira uma canção.
O teu remédio é minha maldição…
A mesma história que eu tento entender,
Já cansei, mas eu quero só você.

Cansei do sexo e das almas nuas,
Secretas juras feitas sem pudor,
Do teu veneno e dos teus seios,
Das duras coxas que só dão prazer

Nossas memórias, histórias cruzadas.
O rock, o reggae e aquele blues,
A roda e o samba que me faz tocar,
Pra tua voz, meu violão…

(um pouco mais antiga, talvez não tenha postado essa poesia por ser biográfica demais, por ser constrangedora até para mim. Hoje, já não me envergonho mais por tê-la feito.)
Lucas do Sobral e Mattos

quarta-feira, 27 de março de 2013

ANTES DE VIAJAR


Começou!
A longa espera já não é tão longa assim.
O sofrimento começa a diminuir,
a saudade aperta, mas começa a afrouxar.
Quase um mês me separa de meu lar.

Um mês!
Quase completo este mês corrido.
Tão corrido que não sei mais descansar.
Alegria seria ler às vezes sobre a vida,
ao invés de estudar.

Amor!
Pense um mês longe de seu amor?
Não digo amor que cresceu com o tempo,
digo amor que não dá pra explicar.
Amor que um mês distante não fez duvidar.

Ricardo P. Magalhães

sexta-feira, 22 de março de 2013

RETRATOS DE UM SER SEM CORAÇÃO


Retomo o tom blasé de meu sorriso
Recheio-me de incógnitas a resolver,
Jogadas ao relento da ingenuidade.
Regurgito o que restava de emoção.
Ensandeço, sem remédio e sem ter cura.
Eu pereço, sem ter tempo, sem ser certo ou leal.

Rabisco o livro histórico de mim.
Por cima escrevo outras estórias a ruir.
Com vergonha de saberem o que fiz,
Sou covarde para poder me exibir.
Sou loucura, sou enfado escondido…
Parado ali, jogado ao leu a ver minha solidão.

Escárnios, fragmentos de minha vida.
As taras do que ainda há de vir.
Banido, pelo próprio sofrimento,
Tentei tirar meu coração de mim…
Amanheceu, o sol se pôs, anoiteceu.
A minha dor, enrijeceu o que sobrou.

Retratos de um ser sem coração.
O que é pior? Eu já não sei dizer…
Se eu fujo ou se encontro esconderijo,
Da fera que atiça o que se apagou
Do tempo perdido, lamento contínuo, do que vem de lá…
O vívido esboço dos sonhos, do rosto, do que há de vir no meu ar…

Reflexo borrado de um eu que se deixou…
Remonto as lembranças que importam mais,
A música, a dança, o véu rasgando,
Mostrando-me o que passou e resisti.
O que dói mais, a dor ser ou de não ter?
Enterro aqui o que era eu, hoje em você.

Lucas do Sobral e Mattos

sexta-feira, 15 de março de 2013

O PORQUÊ


Quem eu sou?
Instrumento nas mãos do compositor,
O constrangimento que ele não quis lidar,
Resultado da fantasia do mundo real
Coberta pela falta de responsabilidade –
Encrustado no desejo de dizer
Sem pagar pelo que causou.

Sou piada mal-feita:
Não preocupo em disfarçar o preconceito,
Nem me importo por não ter a graça da comédia cotidiana.
Sou ferramenta com missão declarada:
Faço a vontade do criador e nada mais.
Semeio vento e não colho tempestade,
Na verdade, não colho nada.

Meu porquê é todo incerto.
Eu não questiono, faço logo.
Cumpro ordens com clareza:
Quer que eu ame? Isso faço.
Quer que eu deixe? Obedeço.
Quer ver ódio? Eu maltrato…
Baixaria? Sou rei Baco

Só replico sentimentos.
Não sou eu quem faz perguntas,
Nem, de fato, interesso.
Empreiteiro das palavras,
Reconheço que sou falha.
Do juízo, réu confesso.
Assumo a culpa e não contesto.

Sou quem sou por um momento.
O meu ego berra alto,
Tenho inveja e me orgulho disso.
Ordeno a guerra e busco a paz.
Eu ataco e não preocupo em ter defesas.
Dou a surra, ergo espada, brindo o sangue
E sem escrúpulos digo o que quero.

Não me sinto onipotente
Nem me prendo às besteiras
Não respondo. Eu sou a resposta.
Não escondo meu sorriso de satisfação
Seja ele por sucesso, ou talvez por um fracasso.
Não sou bom, não sou ruim
Só sou quem sou... e o sou por um instante.

Lucas do Sobral e Mattos.

quarta-feira, 13 de março de 2013

QUESTÃO LATENTE

Jogado no Olimpo por engano,
portanto sempre procurando por sobrevivência.
Em terra de Deuses gregos enraivecidos,
utilizo em tudo a razão da mente.

Por muito foram adorados
e agora a muito esquecidos.
Me pergunto por que vivo encurralado
em terra de carentes Deuses enfraquecidos.

A queda dos mesmos intriga.
Será por nos ter esquecido?
Ou será por arrogância dos gregos
que plantaram a semente da antropologia e do egocentrismo?

Difícil é continuar sozinho
nestas terras de Deuses carentes.
Vivendo a vida por um fio,
entendo o amor dos últimos crentes.

Ricardo P. Magalhães

domingo, 10 de março de 2013

PÓS-GUERRA


Feridas cicatrizando.
Pós-guerra declarado,
A cura se consolida.
A busca por justiça
Se transforma em sede de vingança

Ninguém me contou o segredo do pós-guerra:
Nunca mais somos os mesmos.
Nada mais volta para seu lugar.

Assumo o novo eu,
Sem conhecer,
Ou, sequer, querer.
Só sigo tentando descobrir
O que me tornei…

O que há depois do limite?
Quem sou após a ordem de cessar fogo?
Agora, todo empenho bélico me pareceu inútil.

Como um soldado
Volto do campo de batalha,
Não sei, ao certo, como agir.
Só há feias cicatrizes
E uma história que prefiro esquecer

Mas me deito, pego no sono e lá está
Levanto-me, vejo um vulto e, de novo…
Lá está, em um lugar intacto em mim,
O amor que me juraste lutar.

Lucas do Sobral e Mattos.

sexta-feira, 8 de março de 2013

LIBERDADE UTÓPICA

Foi dito que a liberdade foi conquistada!
Mas porque conquistas são minorizadas?
Ditaduras de comportamento, permitidas
e Direitos que hoje de tão naturais, saturados.

Comportamentos que modulares são aceitos.
Igualdade se tornou sinônimo de liberdade.
Conceitos se misturam entre direitos civis
e a banalização do não cumprimento da lei pátria.

Me contorço em irônicas gargalhadas.
E me despeço do real deturpado,
enquanto abraço o imaginário de Eu líricos e sonhadores
que da mesma forma se alimentam de liberdade utópica.

Ricardo P. Magalhães

PALAVRAS JOGADAS AO TEMPO

Aborde o sem contorno
parâmetros, louças, bordados ...
Inspire-se por simples formas geométricas
octógono, Picasso e piramides.

Cadeiras frias esperam por filosofia
filosofia espera por novos dias.
Será que é possível pensar em mundo,
sem nos remeter ao milenar senado?

Testes estatísticos, modelos matemáticos
e o brilhantismo de Tavares.
Até quando o nome dos grandes será usurpado?
Até quando serão palavras jogadas ao tempo?

Ricardo P. Magalhães

quarta-feira, 6 de março de 2013

METADE


E então, todo som se calou,
No silêncio ecoou, nossa tristeza.
Até o meu samba parou,
Só se ouviu o furor de tal frieza.

Regada à desilusão,
Feito um samba-canção, o pranto em letra.
E as lágrimas caem no chão,
Sem ter verso ou razão, ferida exposta.

O luto por sim e por não,
Por partir sem refrão, sem ter respostas,
E a dor que só pulsa paixão,
Perfurou o coração, que espera a morte.

Metade de um eu que partiu
E sequer despediu, só foi embora.
Calado ao te acompanhar,
Na avenida, ao pensar: não vais voltar...

E, em parte, me perdi, enquanto escrevi,
A última canção sobre ti
Não ouço mais tua voz, nem tenho mais o “nós”
Sozinho sigo sem você.

Gustavo HG Costa.