quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

CONVITE AOS MORTAIS


Convite aos meros mortais
Libertos da moral do mundo.

Gritem por verdade,
Peço que gritem.
Ambicionem a liberdade do ir.
Do vir, do ser e estar.

Ceguem os lúcidos
E se afastem do lícito,
Desde que seja o teu desejo.

Manipulem a si mesmos,
Ó, originais do mundo.

Firam os escrúpulos.
Tenham anseio pelo fim da prisão.
Temam a rotina da ditadura,
Da amargura, da arma-dura social

Tirem as couraças,
Tornem-se atingíveis,
Corram o risco de ser vulneráveis

Salvem a criança interior,
Inocentes da carnificina do devir

Compadeçam de si
E da pobreza inerente a vossa culpa.
Descubram às dores da vida,
Da sorte, distância e morte.

Enforquem o desinteresse
E sejam quem são, na verdade.
Creiam.  E façam-no por bel prazer.

Gustavo HG Costa.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

AOS 50

E tudo era só uma história,
Sem métrica ou rima.
Palavras perdidas no tempo,
Extravasando, fluindo,
Como quem, por nada querer,
Só existe.

Glórias passadas
Armazenadas em baús.
Empoeiradas lembranças,
Sem uso, sem costumes,
Romantismos ou folclore.

Nada além do esquecível,
Perdido em meio aos anos
De um ente que não pode falar amor.

Memórias sem sentido
Opressas pelo gênero,
Só por ser o masculino.

À bela amada competia saber:
"Ele é assim:
Dura crosta cultural
Envolvendo um, quem sabe,
Sentimento"

Para ele, afeto se demonstra
Sob o trabalho árduo,
E enxada de sol a sol.

Hoje, aos 50. Viveu nos 60;
Cresceu calado por fora,
Sob juras firmadas num cano 38.

Liberdade?
É escrita por caras pintadas,
Gritos de 'Diretas'
E o direito de ir, de vir,
De ficar, cantar...
Pensar.

Diversifica vocábulos,
Sabe o valor do "eu te amo".
Mais que o Homem,
É cavalheiro:
Finge ceder à quem cuida das panelas.

Criou os donos de seu legado,
Seu orgulho é efetivo
Visto em singular sorriso entreaberto.

Não se curva à ditadura moral,
Ama o político,
Desde que politicamente incorreto,

Uma breve confissão:
Ele, eu… não importa… somos o mesmo.
Nos tempos modernos, jamais admitiria;
Já nesses tempos 'mais' modernos,
Vale tudo.

Lucas do Sobral e Mattos.

sábado, 26 de janeiro de 2013

SOBRE O ROMANCE: SONETO SHAKESPEARIANO


Cotovia, ó cotovia,
Teu rouxinou ‘tá a cantar
À luz do dia, que belo dia…
Raios de sol fazem brotar.

Vem depressa, ó, vem depressa,
Pois, toda vida é nada mais
Que uma peça que prega peças
Separa os tolos dos leais

Sentimentos, alguns momentos,
Por vezes só fazem lembrar...
Que um lamento, pobre tormento…
Pode tentar nos separar

Sofrimento que arde em mim
Me dê a cova e o meu fim.

Gustavo HG Costa.

domingo, 20 de janeiro de 2013

TRAGÉDIA DOS INSENSÍVEIS


Recado aos duros de coração.

Ó, corações de pedra,
Desviantes do desassossego,
Remi vossas falsas tentativas de sucesso;
Escrevam algo com teu sangue
A fim de dar novo uso,
Já que não serve para mais nada.
Mirrados repressores,
Quem vos ambiciona?
Não eu!

Tolos insensíveis, covardes.
Fingem-se valentes,
Mas não passam de ratos de porão.
Deixastes o buraco no peito petrificar
E se tornaram ainda mais fracos,
(Toda dura rocha pode se quebrar)
O que vós podeis fazer quanto a isso?
Sofrerão tanto quanto os pobres de espírito.
A porção que herdastes é solidão.
Vede o que fizestes?

Tal bagunça!
Qual fome, qual guerra, qual morte,
Qual nada pode apagar.
Sem caminho de volta,
Nem futuro a frente.
Vossa única saída é a dor de um coração partido!
Trágico sentimento,
Mas, o único que ainda vos resta a usufruir.
Insensibilidade é a pior das vossas drogas,
No começo, lembra cura;
No trânsito, sofrimento;
No fim…
Só lembra morte.

Gustavo HG Costa.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

VEREDICTO ILEGAL


Culpada!
Acima de tudo, julgo-te culpada.
Acima de todos, eu não te absolvo...
E por esse motivo eu te condeno.

Condeno-te sem direito à apelação,
Julgo-te culpada por tudo que és...

Culpada por ser
E culpada por não pedir desculpa por quem és,
Culpada por roubar corações pra si
E culpada por amar a todos de forma incondicional.

Julgo-te culpada pela luz que irradias
E condeno-te, ainda, ao sacrifício de ser amada

Julgo-te culpada por me deixar julgar sozinho
Como juiz, júri e acusador
Encarcerando-me a impor tua sentença
E, sobretudo, deixando-me julgar-te culpada

Culpada!
Mais uma vez eu digo: Culpada!

Mas, nem em tudo posso condenar-te,
Pois, em parte sou culpado
E minha sentença é proferir tal veredicto ilegal
Ainda que entorpecido pela utopia de teus contrastes.

Condeno-te ao desafio de ser a si mesma;
Sentencio-te a ser reconhecida pela docilidade de tuas cores

Culpada! Sempre culpada
Culpada por raptar corações pra si
E culpada por ter o teu reinado estabelecido.
Outra vez eu digo: culpada!

Culpada por tua ausência de maldade…
E por tua benignidade, te condeno à salvação.

Te acuso e condeno,
Porque és inesquecível,
Porque és impressionante…
Na verdade, imprescindível.

Outra vez eu digo: culpada…
Por meu pleno devaneio e porque me fazes bem

Só espero que me anisties
Por tão severa atitude,
Que sem direito a apelação,
Te condena à plenitude.

Culpada!
Pela última vez repito: culpada!

(Tema dedicado à doce Júlia Leite Fernandes de Carvalho… Nunca pensei que uma loira alta de tão uniforme e impar beleza fosse capaz de estremecer a um mundo. Esse trovão de cores e contrastes residente na mais limpa das almas já vistas pelos homens prova que, por pleno devaneio, caí aplacado pela mais singela das verdades: “quem encontra um amigo, encontra um tesouro”.)

Gustavo HG Costa.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

CORAÇÕES TUPINIQUINS


Corações tupiniquins,
Cidadãos da solidão.
Bandeirantes de si,
Oh, brabos camarás.
Encobrem as mazelas
Das gigantes paixões.
Beijando as gurias,
Largaram ser piás.

Ribombo de ilusão,
Oníricos valentes
Sorrindo e sós por fora,
Calaram o sofrer.
Românticos utópicos
Afogam-se em goros
E sob o seu aio
Supõem-se canções.

Patéticos profetas
De um futuro bom,
Retardam-se no tempo
No sol, com enxada e pá,
Cultivam suas flores
De cor sabem sonhar
E em doce tom fugaz
Aborrecem os seus ais

Seus bosques e florestas
Ocultam emoções.
Urgindo fazem preces,
Querendo solução.
Seus méritos emergem
Adornam-se em querer
A pé seguem caminhos,
De devoção e fé.

Quebraram as correntes
E fingem nem saber,
Que nem toda mentira
Se pode ocultar
À noite em seu quarto
O choro amansará,
Diários de um remorso
Que não vai acabar

Corações que a luz dos sábios
Desiste de entender,
De onde os milagres
Transformam-se em canção.
Seus passos e proezas,
Resumem-se em quinhões
De heranças cultas vindas
Dos sóbrios ancestrais.

Recolhem-se à sombra
De exaspero tal,
Que não se subentende
Sem perceber que há
Romance e tragédia
No mesmo caminhar
Dos velhos infantis,
Corações tupiniquins

Lucas do Sobral e Mattos

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O ÍDOLO

Procurando bem todo mundo tem defeitos
entre erros e acertos paramos pra pensar
mas se a razão pertence aos equilibrados
quem sou eu para balancear?

Ultimato é demência em fatos
em dois não existe a sabedoria
amputado por filosofia em infinitos pratos
desisti da caça em harmonia.

Esquentando por simples diversão
questões sobre o fogo e suplicas por companhia
destrutivos contornos retirados via mutiladoras ações
e tudo que se desejava era a maldita companhia.

Embriagando de saber se souber que seja são
desejada a ônix doce e torneada seria
se depois de anos e demorada percepção
se tornasse a tão desejada companhia.

Ricardo P Magalhães.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

ICARUS, EU


Hoje saio da prisão.
Não porque fui liberto,
Nem porque alcancei compaixão.
O rei nada sabe,
Mas fiz asas com cera
Vinda de favos do mais doce mel…
Roubei plumas das aves
Que gentilmente me ensinam o voo.
Tomo impulso e decolo…
Flano pela imensidão
Do sol, do céu…
Do espelho d' água do mar Egeu.

Sou liberto por meus próprios meios,
E me aprisiono ao frenesi do sol…
Tão claro,
Tão modesto,
Que me faz chegar mais perto.
Tão perto,
Tão quente,
Que, de ilusão, derreto…
As asas que deram liberdade, desfazem…
Soltam penas,
Soltam cera,
Soltam meu corpo em queda-livre
Rumo às águas do Egeu

Um instante e…
Tudo para.
Nada vejo submerso na água negra
Luto!
E como luto!
Tento achar superfície,
Procuro pelas margens,
Quem sabe, um tronco?
Algum socorro...
Mas, só tem mais água,
Só tem mais mar,
Só tem mais pedra,
Já ouço a morte

Percebo a poesia inerente a esse sonho,
Enquanto, de longe,
Sou incompreendido.
Ninguém vê?
Preferi alguns segundos de paixão,
Ali, junto ao sol,
A estrela maravilhosa
Que faz o dia acontecer.
E, como preço era alto,
Paguei com a vida
E disso, não me arrependo.

Vivi por tanto tempo
Corri,
Andei,
Por fim, rastejei,
E me acabei ao procurar algum sentido.
Enquanto as ávidas estórias que me cercam
Contam sobre o sacrifício de amar
Pleno,
Real,
Nobre.
Tanto que quando encontrei amor,
Ele mesmo se encarregou de me jogar ao mar.

Paro…
Encerro a batalha,
Compreendo:
Cumpri a última página da história,
Agora cabe a meu corpo se juntar ao mar
O frio já não incomoda,
Enquanto o meu último suspiro
Transforma tudo:
Margem,
Água,
Correnteza…
Membros,
Corpo,
Mente…
Todos, somos um.
Em tudo... somos fim.

Gustavo HG Costa